domingo, 3 de novembro de 2013

Apodrecendo!




                   As dores do mundo                
                desgraças que deus criou.
              Sua alma era refém da sua própria mente perturbada
             E no silêncio do escuro, só ele sabia a guerra que existia dentro de sua mente.


      Nas penumbras de seu quarto, seu universo paralelo
     Sua mente conspirava sua própria derrota.
     Ele caminha para o seu próprio fim
    Mas há muito tempo, ele já estava derrotado... morto! Morto, mas rejeitado pelo anjo da morte!




                      Sua dor e sua agonia, já haviam se tornado um vício.
                      Só uma coisa lhe interessava,
                      Só uma coisa poderia lhe dar a suposta paz,
                      Só uma coisa triunfaria,
                      O beijo da morte, com seus lábios frios e espectrais! 



Seu mundo estava escurecendo,
seu mundo de tristezas, fraquezas, decepções e insanidades iam se despedindo da luz do sol,
que há muito tempo já havia deixado de existir.
O amanhecer já não lhe trazia esperanças, mas seria palco de sua eterna derrota!   




No escuro ele esconde sua dor,
Que lhe tortura, que lhe esconde do mundo.
Ele vê a morte como algo belo, libertador
E enquanto ele padece, a esperança ainda fortalece o mundo que não para de girar!



  


    O cheiro insuportável de decomposição, e o horror dos vizinhos curiosos ao encontrarem seu corpo apodrecendo,refém da implacável ação dos vermes necrófagos.

    Amarildo cortou os pulsos com uma lâmina de barbear, após ter ingerido uma grande quantidade de sedativos fortes.

    Sua mãe foi comunicada e ao ver o filho(que morava sozinho numa humilde casa de aluguel) naquela situação,sentiu-se o mais desprezível de todos os seres humanos, por não ser capaz de fazer o filho ver o mundo com outras perspectivas. Derrotada na missão de salvar o próprio fruto de seu ventre,que sofria na escuridão,de um inferno criado pela própria sociedade ignorante e hipócrita,que na qual ela também fazia parte.

   As lágrimas da sua mãe caem sobre seu cadáver pútrido, encontrado cinco dias depois do beijo definitivo da morte. Mesmo em avançado estado de decomposição,ela lhe abraçou forte,sem se importar com os vermes,afinal aquele abraço poderia ter sido a solução ,mas foi dado tarde demais!

    -Me perdoe meu filho! Agora é tarde demais, mas receba minha benção!

    As pessoas que presenciavam aquela cena chocante de filho suicida em decomposição e mãe arrependida ficaram emocionadas.
    Mas o horror que eles iriam presenciar, jamais eles iam esquecer. Uma voz rouca,distorcida e agonizante proferidas pelo cadáver fez o sangue de todos congelar.

   -Mamãe... estou sofrendo ...aprisionado neste corpo...não consigo me libertar...a dor que estou sentindo é inexplicável...meu corpo é minha ...prisão...orem  por minha alma...socorro,eu estou no inferno...!Aaarrrrghhhhh...-Foram suas últimas palavras,ditas post mortem.

   Ela  deu-lhe  a benção e o último beijo.

   As pessoas ali presentes não conseguiam acreditar no que acabavam de ver e ouvir.Foi tudo muito estranho e tenebroso e Dolores foi amparada e retirada da presença do cadáver,que teria que ser removido pelos agentes do necrotério. O cadáver exalava miasma que era sentido no quarteirão inteiro,causando desconforto aos pedestres que por ali passavam ou moravam.

   Como Amarildo estava em avançado estado de decomposição, ele teria que ser sepultado no mesmo dia e a noite se aproximava.

    O funeral foi realizado às dez horas da noite e apenas sua mãe, dois tios, seu pai que era separado de sua mãe, o atual marido dela, dois amigos de infância e o coveiro fizeram parte do cortejo fúnebre.

   Como os procedimentos fúnebres foram feitos as pressas, o corpo teria que ser enterrado no mesmo jazigo,onde sua avó havia sido sepultada a sete anos atrás.

    O silêncio noturno e mórbido do cemitério foi quebrado pelas batidas da marreta, que o coveiro utilizou para remover a entrada do túmulo. O pai de Amarildo,continha as lágrimas e  segurava a lanterna de luz forte,para que o coveiro removesse a ossada de Valentina,sua mãe.

     Os ossos iam sendo colocados em um saco e os cabelos longos e brancos da avó de Amarildo, ainda estavam intactos. O ruído de ossos sendo colocados no saco fazia aquelas pessoas refletirem sentimentos de que não somos nada neste mundo de ilusões.

    Imagens de quando seu filho era um bebê, a primeira palavra-Mamã-, os primeiros passos, o primeiro dentinho, a primeira palmada, a escolinha, adolescência conturbada, brigas constantes, as discussões, preconceitos e o pior: o abandono familiar, que fatalisou na derrota chamada suicídio. Tudo passou como um filme na mente de Dolores,de uma vida de brigas e ignorâncias,que terminava ali,no último tijolo colocado na entrada do túmulo!

     Moacir comentou discretamente para Rogério,quando todos já estavam indo embora:
     
      -Eu poderia jurar que ouvi o cadáver de Amarildo dizer alguma coisa dentro daquele caixão lacrado...Ou estou ouvindo coisas! Vamos embora logo,este cemitério a noite é sinistro!

      -Eu também ouvi!Fiquei todo arrepiado e confuso...-(Ambos eram amigos de infância do suicida)- Que a alma de Amarildo descanse e encontre a paz no outro lado!



                                                                  F.I.M.

Um comentário:

Vampire disse...

Que final. Parabéns!